quarta-feira, 15 de outubro de 2008

crisis? what crisis?

Embalados pelo lento cair da folha, neste outono atípico, cheio de nevoeiro, sol e calor, acordamos um dia a pensar que o mundo ruiu, no seguinte acreditamos piamente que o mundo se levantou e, no fundo, no fundo, ainda não experimentámos nada.

Tudo parece passar-se no limbo televisual onde as estrelas são obama e a sua beleza dermoestética, sarko e a beleza da sua conjugalidade, sarah pallin e o feio horrível de ver como o criptofascismo volta a funcionar...

Porém, lembram-se da Argentina, um dos países emergentes dos oitenta que colapsou nos noventa? Repararam na Islândia, segundo país do mundo em índice de desenvolvimento humano, que vive hoje a dura realidade do racionamento de combustíveis e alimentos: algo que a europa pensava ter enterrado quando enterrou o senhor adolfo e começou um ciclo de crescimento (aparentemente) imparável com a ajuda do senhor marshall?

A crise, meus amigos, é sistémica. A fronteira entre a economia financeira e a economia real (estratagema que políticos e banqueiros usam hoje para exorcisar os nossos fantasmas) é virtual e ilusória.
A banca, as bolsas e outros quejandos rebentaram (ou vão ainda rebentar) porque o sistema é insustentável: vivemos na mirífica realidade de um suposto capitalismo financeiro que apenas emergiu porque alguém esqueceu pelo caminho a importantíssima (e básica) necessidade de socialização do rendimento. Não, não estou a falar de socialismo, nem de comunismo, nem de outros ismos que a história foi inventando para justificar regimes políticos que, no fundo, no fundo, nunca se diferenciaram tanto como isso (alguém duvida que a URSS era um mero compromisso entre o feudalismo da rússia czarista e uma antecipação visionária do capitalismo de estado que hoje vivemos?).

Estou a falar de uma coisa mais simples, mais humana, que tentarei explicar sucintamente.
Aquilo a que chamo rendimento não é mais do que o conjunto da riqueza gerada pelos processos de produção de bens e serviços. Quando a produção desta riqueza se baseava substancialmente no trabalho directo, a distribuição do rendimento estava mais ou menos assegurada através dos salários, apesar das enormes injustiças... Hoje, com a explosão tecnológica, o trabalho directo tornou-se, em grande medida, dispensável. Com (apenas) algum exagero, poderemos dizer que boa parte dos processos industriais estão no limiar de dispensar a presença física de trabalhadores.

Ora, o que acontece então ao dito rendimento? Verticaliza-se, o que é dizer que sobe vertiginosamente até ao topo da escala social, deixando a base seca, desertificada.
Ora, por outro lado, a economia (real) destes dias depende do consumo de massas.
Ora, se as massas estão descapitalizadas, quem consome o consumo de massas?
É por isso que tudo o que significa consumos de luxo está florescente como nunca e tudo o que depende do consumo de massas está em crise.
É aqui que podemos encontrar a natureza desta crise.
É óbvio que os disparates especulativos da alta finança aceleraram e puseram a nu o desequilíbrio sistémico em que vivemos.
Mas são apenas a árvore que esconde a floresta!

3 comentários:

Anónimo disse...

J-O-B-S' crisis

Anónimo disse...

Pois bem, se até o Primeiro Ministro da Islândia se mostra calmo e optimista, não vou ser eu, comum contribuinte, endividado e sem poder de compra, a enfrentar este ciclo de outono, na mais absoluta depressão! Está decidido, vou beber uns copos e vai ser… do velho. Amen!

Anónimo disse...

Pois bem, se até o Primeiro Ministro da Islândia se mostra calmo e optimista, não vou ser eu, comum contribuinte, endividado e sem poder de compra, a enfrentar este ciclo de outono, na mais absoluta depressão! Está decidido, vou beber uns copos e vai ser… do velho. Amen!