segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

A Grécia também é aqui!

Também aqui, em Portugal, país de brandíssimos costumes, onde a malta está habituada a comer e dizer: mas do que é que estavas à espera?, a polícia matou uma criança de 14 anos. Perigo iminente (ou uma questão de eminências?). Legítima defesa? Não espero revoltas cívicas, não espero nada. Talvez um assomo de indignação. Que, suspeito, não vai existir. Será porque a criança era preta? Pobre? Será?, pergunta um dedinho quase incomodado por ser português...

domingo, 4 de janeiro de 2009

Guerra

Ontem, o dedinho foi ao cinema. Por macabra coincidência, foi ver Valsa com Bachir, do israelita Ari Folman, no dia preciso em que os herdeiros desses soldados que, em 1982, invadiram o Líbano entravam em Gaza, em mais um acto da «guerra defensiva» que Israel trava há décadas pelo seu direito à existência (em detrimento do direito do outro a existir, será?). O filme é soberbo, brutal, terá os seus defeitos cinematográficos mas é uma obra de arte contemporânea tal como elas devem ser: frágil, inquieta, interrogadora, desmistificadora. Há quem acuse o filme e o seu realizador de parcialidade. É absolutamente verdade. Não apenas porque o suposto registo documental viaja entre a reportagem memorialista e o jornalismo embedded, mas porque é essa a vontade clara do realizador: ver e fazer-nos ver as pessoas reais que vivem debaixo dos capacetes e dos uniformes, mostrar-nos o medo, a perplexidade, o choque, a desumanização brutal em que a guerra investe cada uma dessas pessoas. E, também, como cada pessoa encontra uma frágil linha de humanidade (o esquecimento?) que lhe permite sobreviver. Arrasado, o dedinho saiu a pensar: será um dia possível abrirmo-nos ao outro, acabarmos com o exclusivismo da razão, deixarmos de nos ver a nós próprios como instrumentos de uma lógica de massas que nos transcende? O dedinho acha que não é para aí que as coisas caminham. Mas, quem sabe?