domingo, 4 de janeiro de 2009
Guerra
Ontem, o dedinho foi ao cinema. Por macabra coincidência, foi ver Valsa com Bachir, do israelita Ari Folman, no dia preciso em que os herdeiros desses soldados que, em 1982, invadiram o Líbano entravam em Gaza, em mais um acto da «guerra defensiva» que Israel trava há décadas pelo seu direito à existência (em detrimento do direito do outro a existir, será?). O filme é soberbo, brutal, terá os seus defeitos cinematográficos mas é uma obra de arte contemporânea tal como elas devem ser: frágil, inquieta, interrogadora, desmistificadora. Há quem acuse o filme e o seu realizador de parcialidade. É absolutamente verdade. Não apenas porque o suposto registo documental viaja entre a reportagem memorialista e o jornalismo embedded, mas porque é essa a vontade clara do realizador: ver e fazer-nos ver as pessoas reais que vivem debaixo dos capacetes e dos uniformes, mostrar-nos o medo, a perplexidade, o choque, a desumanização brutal em que a guerra investe cada uma dessas pessoas. E, também, como cada pessoa encontra uma frágil linha de humanidade (o esquecimento?) que lhe permite sobreviver. Arrasado, o dedinho saiu a pensar: será um dia possível abrirmo-nos ao outro, acabarmos com o exclusivismo da razão, deixarmos de nos ver a nós próprios como instrumentos de uma lógica de massas que nos transcende? O dedinho acha que não é para aí que as coisas caminham. Mas, quem sabe?
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