quinta-feira, 19 de julho de 2012

E se o IVA voasse? E se escurecesse?

Afobado, o dedinho calcula, o dedinho procura uma fita métrica, milimétrica, e lança-se sobre plantas de armazéns, áreas vastas, cobertas e livres do vento, inimigo ancestral das facturas. Sim, inimigo dos recibos comuns, feitos de papel, curtinhos, pequenos, leves... Imagina-se o dedinho, febril, a guardar três mil, setecentas e catorze facturinhas a cada ano, por longos quatro anos. Ou seja, a precisar de garantir espaço, espaço de qualidade, sem vento, com uma temperatura controlada — sim, porque os talões em papel térmico apagam-se com o calor, acinzentam-se e depois o ministro não consegue lê-los —, para catorze mil, oitocentos e cinquenta pedacinhos de papel, evidências de pastéis de nata fora de horas, de francesinhas ocultas, de uísquís financiados pelo erário público (o dedinho, diga-se, odeia uísquí, mas não despreza aqueles cinco por cento de vinte e três por cento que são financiados pelo erário público), de cócacólas imperiais e de nacos de vitela patriotas mas mal passados, de jantaradas tão queirosianas como este mundo estranho em que vivemos. Calculados, todos, a uma despesa média de sete euros. Um conto e quatrocentos. Porque o dedinho pode tomar um café, mas pode também encomendar caviar. É um dedinho, pelo menos, privilegiado. Um dedinho mais prudente e económico que, à míngua de subsídio para o Nespresso, gaste e só gaste umas bicas fora de casa, pode multiplicar por dez todo o cálculo já expresso e ficará com uma ideia...
Agitado, desolado, o dedinho conclui, derrotado, que o volume, expresso em metros cúbicos, de empreendedorismo de que necessitaria para poupar mil euros no iérreésse ao fim de quatro anos custaria uma pipa de massa. E antes de adormecer, esgotado, não consegue evitar um esgar, amarelo como um mau sorriso, ao pensar que qualquer previsão a quatro anos, com os mercados tão nervosos e tão reactivos, pode mudar em quatro minutos. Ou menos.