quinta-feira, 7 de junho de 2007

Primeiro

Bom, para primeiro post, talvez convenha escrever qualquer coisa de programático.

Interessa-me, em primeiro lugar, a criação artística e o lugar que uma sociedade (ou um conjunto complexo de sociedades como a UE) lhe confere.

Porque trabalho em torno dela já há bastantes anos, porque tive e tenho a possibilidade de conhecer e conviver com o modo como as coisas se fazem não apenas dentro de Portugal como em todo o espaço europeu, e porque considero a existência consequente de políticas culturais como um índice de maturidade civilizacional de qualquer forma de governo.

Em relação a Portugal, estamos conversados.
Depois de um oásis de cinco anos com um verdadeiro ministro da cultura, entre 1995 e 2000 (sim, esse que pelos vistos se tornou uma espécie de bombo da festa, mas a quem ninguém pode, a não ser por ignorância, retirar o mérito de um trabalho estruturante e, dado o estado das coisas, mesmo visionário), tivemos já cinco ministros (e ministras). Aquilo que se conseguiu ganhar com a criação do ministério e cinco anos de políticas (umas melhores, outras nem por isso, mas… políticas!) já quase se perdeu.
Principalmente porque os responsáveis seguintes deixaram (com um cinismo considerável) que o discurso da crise atrofiasse um ministério que ainda não tinha sequer atingido um patamar orçamental mínimo.
Mas também porque a sucessão de cinco ministros em cinco anos, todos eles muito boas pessoas mas sem uma ideia global do empreendimento em que se metiam, impede qualquer tipo de estruturação, de continuidade, de aproveitamento (ou poderia dizer mesmo, de rentabilização) dos escassos e dispersos investimentos realizados.

Há, portanto, quase tudo para fazer. Porque se fez pouco e o que se fez foi paulatinamente destruido ou atrofiado.

O meu dedinho diz-me que vai ser complicado. Que vai demorar muito tempo até que qualquer mudança visível se opere. Que, pelo menos, teremos que esperar por uma futura equipa ministerial para que qualquer mudança positiva comece sequer a operar-se. E que vai ser preciso acender muitas velinhas e ter muita, muita, fé para acreditar que o futuro existe. Mas eu acredito (e até censuro o cepticismo do meu dedinho). E, como diz o outro, a mim, ninguém me cala (ou, enfim, quase ninguém)!

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