sexta-feira, 8 de junho de 2007

Por este rio...

Au-delà de l’inusable démocrati­sa­tion culturelle, la rencontre singulière et concrète de n’importe quel individu avec les œuvres d’art ou les savoirs de son temps, quelles qu’en soient la nature et la complexité, doit être reconnue comme un droit. Chacun doit pouvoir revenir sur ses pas, accéder au travail de la pensée, expérimenter s’il le souhaite un rap­port personnel à la création. Il existe pour cela notamment des lieux publics, un réseau de théâtres, de scènes nationales et de médiathèques, lesquels devraient se voir contraints de partager leurs outils, d’ouvrir des ateliers de pratique artistique ou des universités permanentes. Pourquoi cela ? Au nom de l’intérêt général et de l’utilité pu­blique. Au nom de la démocratie.
Daniel Conrod


Pois bem, este é um excerto breve de um texto publicado no Télérama, revista francesa sobretudo dedicada ao audiovisual, sob o título «Savez-vous que la culture a changé?» .

Ocorreu-me publicá-lo hoje aqui, na contagem decrescente para a primeira consumação pública do crime de lesa-democracia que a Câmara do Porto cometeu/está a cometer/ainda há-de vir a cometer (riscar o que não interesse) com a privatização da gestão do RIVOLI TEATRO MUNICIPAL e a sua entrega ao produtor «faux-Broadway» Filipe la Féria.

O texto integral compara precisamente o aplanamento, o empobrecimento, a repetição mecânica que assola as vidas individuais por via da explosão das indústrias culturais com a «biodiversidade dos olhares» e das experiências que apenas o exercício artístico instala com plena autonomia.

Nem tudo é perfeito neste artigo. Aquilo que me suscita mais dúvidas é a aparente ignorância de que as instituições de criação e difusão artística já fazem em permanência oficinas de prática artística e praticamente toda a famigerada «formação de públicos» (e que quando não fazem, isso resulta de um défice de programa que as autoridades públicas, financiadoras, devem estar preparadas para impedir). E também o facto de esquecer, aparentemente, que aquilo a que se chama «fruição» de bens artísticos, que não é mais do que o simples confronto de um público com uma obra com a comunicabilidade particular que a condição artística lhe confere, também é um garante dessa biodiversidade e da condição democrática.

No entanto, parece-me uma excelente pista de reflexão nestes dias de catástrofe para a cidade.



Sem comentários: