sexta-feira, 15 de junho de 2007

Manifestação frente ao Rivoli 2

Protesto (mais ou menos) silencioso reúne mil pessoas no Porto à porta do Teatro Rivoli

15.06.2007, Andréia Azevedo Soares, PÚBLICO

Traziam na mão o "R" de "Rivolução", mas a palavra de ordem acabou por ser "vergonha!".
O autarca Rui Rio e o produtor Felipe La Féria foram vaiados

O objectivo da manifestação foi alcançado: cerca de mil pessoas compareceram ontem no protesto "silencioso" (que não foi tão silencioso como isso) contra a concessão do Teatro Municipal Rivoli, no Porto, à produtora de Filipe La Féria. Nem todas traziam nas mãos a letra "R": os 800 papéis impressos e plastificados já haviam esgotado antes mesmo das 21h, ou seja, meia hora antes do desfile de convidados para a estreia do espectáculo Jesus Cristo Superstar.
"Estamos aqui em silêncio, com a nossa cidadania intacta", dizia Lino Teixeira, um dos três porta-vozes deste movimento que, segundo frisou, é de cidadãos e não de um pequeno grupo de artistas. Por outras palavras, o grupo não pretendia incomodar o espectáculo nem as personalidades para ele convidadas.
Mas a verdade é que parte dos ma-
nifestantes não resistiu a vaiar a passagem de Filipe La Féria pelo tapete vermelho que foi estendido ao longo da Praça de D. João I, nem a assobiar no momento em que Rui Rio, o presidente da Câmara do Porto, entrava num túnel forrado com plástico transparente. Sim, era preciso passar por essa tenda futurista, onde mais tarde seriam servidos aperitivos e bebidas, para chegar ao átrio do Rivoli (onde havia ainda um jovem casal, com a cerveja patrocinadora na mão, a rebolar ao som dos percussionistas que recebiam os espectadores a rufar alto e bom som). À excepção destes dois momentos de catarse popular, chamemos-lhe assim, respeitou-se o silêncio prometido até às 21h30. Depois disso, encheram-se os pulmões para gritar "vergonha, vergonha".
"Visto daqui, isto parece um zoológico. Passa cada bichinho!", comentava uma das manifestantes à amiga, referindo-se a figuras recorrentes nas páginas de revistas cor-de-rosa - Cinha Jardim e Lili Caneças, por exemplo. Dois turistas ingleses perguntavam por que é que havia um show a acontecer com pessoas à volta com um "R" na mão. Quando lhes explicaram que "o teatro fora privatizado" e que a letra em punho significava coisas como "Rivoli" e "Rivolução", por exemplo, os estrangeiros entusiasmaram-se e não paravam de dizer "oh, nice".
O voto de silêncio valeu também para a maioria dos rostos conhecidos - havia actores, bailarinos, produtores, músicos, jornalistas, mas também arquitectos, domésticas, estudantes -, que só prestaram declarações muito perto das 21h30. João Teixeira Lopes, do Bloco de Esquerda, descreveu a estreia de Jesus Cristo Superstar como "uma espécie de Hollywood à moda do Porto, feita à medida das elites que querem mostrar os seus melhores vestidos na passadeira vermelha". Referiu ainda que Rui Rio, ao ouvir La Féria dizer que ainda pondera se ficará ou não no teatro, deveria ter "rompido o contrato no dia seguinte".

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