quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Crisis, what crisis?

O dedinho anda confuso. «Quanto vale 5% de tão pouco?», pergunta. O dedinho suspeita que o desencontro entre um rendimento que baixa e um custo que sobe pode ser algo perturbador. E pensa que o exemplo do país não coincide exactamente com o que se está a passar no mundo, embora as duas realidades se influenciem. Ou seja, cisma que há uma crise do capitalismo, grave, muito grave. E que há uma crise do Estado Novo, ou seja lá como for que se chama esta coisa onde vivemos, que é grave, muito grave. E que as duas, chocando-se neste mísero espaço cósmico que vai de Bruxelas ao Funchal, são bem capazes de explodir para o lado errado.
O dedinho andou a ler o David Ricardo e o Adam Smith, rememorou o Marx da sua infância e investiu sobre o Krugman, passou Keynes como cão por vinha vindimada e sorriu quando se lembrou que o guardião do FMI é um esquerdista francês capaz de suceder ao Sarkozy.
E chegou à conclusão que o mundo que tantos prepararam tão bem e que era tão radioso, estava fundado num pequeno erro: a presunção de que o direito de cidadania reside no capital, de que o trabalho é um custo a reduzir tanto quanto possível para que os bens cheguem a um preço baixo ao consumidor (apesar de as margens de lucro aumentarem sempre) esqueceu um pequeno detalhe. Não há distância entre o trabalhador, o contribuinte e o consumidor de massas. O dedinho chegou a sentir uma certa vertigem quando pensou que acima de si, acima da mão que o sustenta, para lá do braço que a segura, ainda além do tronco a que se agarra o braço, há um ser complexo que integra essas três condições irreconciliáveis. Trabalha, contribui e consome. Assegurando sempre, por cada um dos três lados, o crescimento exponencial do rendimento do capital...
Quando parou de pensar, estava tão tonto que achou que 5% de pouco não é nada e não vale a pena preocuparmo-nos.

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