O nome é assim mesmo, em Francês, porque o seminário foi co-organizado pelo Balleteatro e pelo festival Danse à Lille, no contexto de um projecto multilateral, chamado Réperages.
O meu trabalho tem-me levado a participar em inúmeros destes debates, em Portugal ou, sobretudo, no estrangeiro. Sei de experiência própria que nós, portugueses, temos que armar-nos duplamente, nestas situações: temos que conhecer bem (como os outros) os princípios de fundo e os mecanismos nacionais e comunitários da cooperação multilateral no domínio cultural; e, depois, temos que puxar de toda a nossa habilidade discursiva para explicar aos outros porque é que (quase) nada disto funciona em Portugal.
Hoje, para começar, ouvimos o responsável da região Nord-Pas de Calais (extremo norte da França) explicar a aposta de recurso ao domínio cultural para reabilitar uma região em perda depois do encerramento de boa parte das mega-indústrias que a sustentavam. Ouvimos como se pode desenhar um plano a dez anos, estudando os recursos a investir e o modo de os investir onde eles melhor se reproduzem. Ouvimos os montantes investidos (apenas possíveis, mesmo em França, a uma escala regional e quando essa região considera o factor cultural como prioritário): 47 milhões de euros, só no ano que precedeu a Capital Europeia de Cultura em 2004.
E depois ficamos a ouvir-nos dizer não apenas da penúria financeira (que traduz, não uma penúria geral, mas a posição secundaríssima que o Ministério da Cultura tem na distribuição de recursos), mas sobretudo da penúria política, da incapacidade em compreender sequer onde e como investir o pouco que sobra. Ficamos a pensar como conseguimos esmifrar e multiplicar orçamentos estagnados há dez anos e continuar a cumprir uma missão de serviço público que entendemos como essencial para a cidade, a região (se houvesse!) e o país. Como conseguimos o milagre de internacionalizar uma parcela do teatro português sem um esboço sequer de concertação institucional.
Diga-se, em abono da verdade, que a impolítica cultural da cidade do Porto é apenas um reflexo (ainda que agigantado e tornado transparente) da impolítica cultural que nos assola a níveis mais elevados.
Curiosamente, é exactamente a cooperação multilateral que pode dar-nos algumas chaves de sucesso: aí, no domínio das capacidade de desenho e execução de projectos de criação, somos tão bons como todos os outros…
1 comentário:
A Mão já teclava qualquer coisa, não? :)
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